Descubra o quanto a matéria orgânica é importante para o solo

Húmus é um dos componentes da matéria orgânica do solo. Leia o questionário e saiba mais a respeito.

P: O que é “Húmus da Terra”?

R: “Húmus da Terra” é uma maneira mais popular de indicar a matéria orgânica do solo (MOS), onde o húmus, na verdade, é uma parte da MOS.

Húmus ou humo é uma substância de consistência “amanteigada”, de coloração preta a amarelada e aspecto de massa sem forma específica. Húmus possui propriedades físico-

químicas inteiramente diferentes do material vegetal ou animal original.

A MOS é constituída de substâncias oriundas de plantas, insetos (formigas, besouros, joaninhas etc), minhocas etc, mas a maior parte vem das plantas.

E a serrapilheira Ela não é MOS? Bem, a serrapilheira (“liteira” é termo obsoleto) é uma camada superficial de solos sob floresta consistindo de restos de vegetação (alguns animais também!) como folhas, ramos, caules e cascas de frutos em diferentes estádios de decomposição. Ela, em princípio, é MOS. Entretanto, muitos cientistas consideram que a serrapilheira não compõe a MOS devido, possivelmente, ao fato dela estar depositada e não completamente envolvida pelos constituintes do solo. Note que a definição menciona “solos sob floresta” não havendo menção de que serrapilheira estaria presente em solos cultivados. Crê-se que seja devido a muitos cientistas considerarem o solo cultivado como aquele, onde sempre se faz a aração e gradagem e, assim, praticamente eliminam a possibilidade de formação de serrapilheira. Com o advento do plantio direto, onde não há aração e gradagem do solo, há formação de cobertura morta ou “mulch”.

“Mulch”, segundo o Vocabulário de Ciência do Solo, é qualquer material tal como palha, serragem, plástico etc. que é espalhado na superfície do terreno com a finalidade de proteger o solo e as raízes dos impactos diretos das gotas de chuva e raios de sol, evitando selamento superficial, evaporação e variação brusca de temperatura. Vemos aqui que serrapilheira é um componente específico de solos de floresta e que a palha, que é originada com o plantio direto, não se trata de uma serrapilheira, mas sim de cobertura morta ou “mulch”

P: Para que serve o húmus da terra ou melhor, a matéria orgânica do solo?


R:
Basicamente a MOS serve para dar vida ao solo. Não havendo nenhuma MOS quer seja a viva ou a morta, o solo não tem como sustentar uma floresta ou uma lavoura agrícola.

MOS, através de substâncias húmicas, propicia um solo bem estruturado com uma distribuição adequada de partículas sólidas (ex. areia, silte e argila) resultando no aparecimento de poros onde água e ar podem ser armazenados para que plantas e raízes de plantas possam crescer.

MOS, através de substâncias húmicas (ácidos húmicos) e não-húmicas (componentes alifáticos hidrofóbicos), de minhocas e de hifas de fungos propiciam a formação e estabilidade de agregados (pequenos torrões). Os agregados do solo condicionam a infiltração e drenagem de água no solo, a aeração e cria um habitat para a biota do solo (fungos, bactérias e actinomicetos).

MOS, através das substâncias húmicas (principalmente ácidos fúlvicos), aumenta a capacidade de troca de cátions do solo, propiciando maior capacidade de retenção de nutrientes (ex. cálcio, magnésio e potássio) evitando serem lixiviados e, ao mesmo tempo, podendo abastecer a planta através da água do solo.

MOS, através da palha que cobre a superfície do solo (“mulch”), evita o selamento ou encrostamento superficial causado pelo impacto da gota de chuva, evitando a formação de enxurrada e, assim, protegendo o solo contra a erosão causada pela chuva.

MOS, através de túneis construídos por térmitas do solo, minhocas e raízes mortas das plantas, possibilitam maior drenagem de água e movimentação de calcário em profundidade.

MOS, através da matéria macrorgânica, contém grande quantidade de nitrogênio e enxofre e, através de ácidos húmicos, ácido oxálico e málico, têm comprovada participação na disponibilização de fósforo para as plantas.

MOS, através de substâncias húmicas (ex. ácido fúlvico) e não-húmicas (ex. ácido cítrico) possibilitam diminuição da toxicidade de metais, como o alumínio, para as plantas;

MOS, através de bactérias que se associam com raízes de plantas cultivadas (ex. soja), abastecem as plantas com nitrogênio diminuindo custos de adubação nitrogenada para o agricultor.

MOS, através de fungos que se associam com as raízes de plantas, melhora a eficiência das culturas em absorver o fósforo presente no solo.

MOS, através dos microrganismos, podem transformar diversos pesticidas em substâncias simples, que, ao atingirem águas subterrâneas ou rios e lagos, não causam danos à saúde pública.

MOS, através de raízes agressivas de plantas consideradas adubos verdes (ex. ervilhaca, tremoço), podem romper camadas de solos compactadas.

MOS, através de todos os seus componentes, contribui para a não ocorrência da mudança climática global ou “efeito estufa”.

P: É possível fazer agricultura sem degradar a matéria orgânica?

R: Sim, é possível. A degradação da MOS é menor com a adoção do plantio direto. Não se chega, no caso, a ter degradação nula, mas alguns dos importantes benefícios citados anteriormente puderam ser preservados. Temos evidências que indicam a possibilidade do agricultor, através do manejo conservacionista do solo, preservar mais ainda a MOS.

P: Como fazer agricultura sem degradar a MOS com culturas perenes como café, citrus e manga?

R: Também na agricultura de culturas perenes é possível evitar a degradação excessiva da MOS. O plantio de adubo verde intercalado é a prática mais comum. Plantado entre as linhas da cultura principal, o adubo verde cobre toda a superfície e no florescimento é cortado e deixado na superfície do solo. Segundo estudos conduzidos pelo IAPAR, nas lavouras cafeeiras, por exemplo, utilizam-se o lab-lab, crotalária e mucuna. Plantam-se 1 a 3 linhas de adubo verde dependendo do espaçamento da cultura e da agressividade do adubo verde.

No caso de fruticultura, onde as culturas são mais espaçadas, recomenda-se o uso de adubo verde de hábito rasteiro para cobrir o solo. Planta-se amendoizinho (Arachis prostrata), mucuna, soja perene ou centrosema. Aqui, a adubação verde oferece auxílio no controle das plantas daninhas e na diminuição da insolação. Temperaturas do solo superiores a 40(C, situação comum em solos sem cobertura morta (palha), prejudicam o desenvolvimento radicular, a absorção de nutrientes pelas plantas e os microrganismos.

P: Além de adubos verdes existem outros adubos orgânicos?

R: Existem, sim. Existe o composto orgânico, húmus de minhoca, esterco de curral, esterco de galinha, esterco de suíno, lodo de esgoto, resíduo de curtume, lixo sólido, vinhaça e uma série de adubos orgânicos comerciais.

P: Qual é o melhor adubo orgânico?

R: O melhor adubo orgânico é aquele que atenda às necessidades do solo e da planta cultivada. O adubo orgânico deve ser obtido em quantidades compatíveis com a área cultivada e a um custo compatível com a capacidade do agricultor e também com o benefício que ele irá trazer a longo prazo.

É sempre importante consultar um agrônomo para auxiliar na escolha do adubo orgânico, pois é preciso saber das exigências da cultura, analisar o solo, analisar o adubo orgânico existente na região, verificar sua origem (adubos oriundos de resíduos industriais podem conter metais pesados em excesso como zinco e cádmio, que podem causar problemas à saúde pública) e verificar se ele atende às necessidades.

P: E a questão da “adubação orgânica” versus “adubação mineral”?

R: Normalmente a adubação orgânica melhora a eficiência dos adubos minerais em solos ácido e com baixo teor de matéria orgânica. Como critérios para a adoção de adubação unicamente mineral ou orgânica poderíamos citar os seguintes:

Exigência da planta cultivada;

Nível de fertilidade do solo indicado pela análise do solo;

Custos da adubação;

Qualidade do adubo.

Os adubos minerais apenas fornecem nutrientes para as plantas após solubilização com a água do solo. Eles não propiciam aquela série de vantagens que a matéria orgânica pode oferecer.

Os adubos orgânicos normalmente apresentam proporções de nutrientes que podem não atender as necessidades das plantas. Além disto, os adubos orgânicos tomam mais tempo para disponibilizar determinado nutriente para as plantas. Portanto, é importante saber os benefícios que um e outro oferece para determinado empreendimento.

Adubos minerais e orgânicos, em geral, complementam a eficiência de modo recíproco. A matéria orgânica do solo aumentada pela adubação orgânica oferece condições para que os nutrientes provenientes da adubação mineral, em quantidades complementares à fornecida pela matéria orgânica, fiquem retidos nas partículas orgânicas, impedindo, assim, que o nutriente se perca por lixiviação, atingindo altas profundidades do solo e se afastando das raízes.

Autor: Pedro L. O. A. Machado
EMBRAPA Solos

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